sábado, 10 de dezembro de 2011

"ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR'


Entre estrelas mudas, caminho a estrada de minha vida. O tempo é inconcusso. Ele nos devora restando-nos migalhas de nostalgismos, saudades da infância, da adolescência... breve mocidade... breve poesia que logo se esvai ao badalar do primeiro sino da ‘consciência humana’.
Os anos me atropelaram. Pouco vivi qualitativamente. Tive longo período de exílio. Quase enterrada em extensasólidas e intransponíveis muralhas... Abismo fundo, profundo, escuro, abissal, inferno onde permaneci latente, lagarta no casulo de cristal, vendo o mundo passar por mim pela vitrine de minhas tristes retinas. 
Sozinha, desamparada, bem lá no fundo sombrio, paredes lisas e obtusas, incapaz de escalá-las. Alma empacotada, asas atrofiadas, grossas algemas de férreangústia, temor dilacerante. E a vida passava por mim... Só eu sei de todas as minhas dorespirituais, só eu sei de minha fragilidade mascarada por uma força e determinação e independência, só eu sei de minha imensa carência.
Penso no real sentido de nossa existência: nascer, crescer, estudar, trabalhar, casar, envelhecer, trabalhar, trabalhar, trabalhar para conseguir o pão nosso de cada dia. Pagar contas, assumir responsabilidades, compromissos, cumprir prazos, adoecer, esgotar-se insatisfeita nesta rotinaterrante e imobilizante.
Amar também faz parte do existir e deveria resgatar em nós aquela "breve poesia". Mas, como pode resgatar se o amor está condicionado e limitado em situações reais? Se está lindado pelas fronteiras do ‘dever ser’, dos afazares, das responsabilidades, do pão nosso de cada dia, dos compromissos? Em verdade, o amor faz este resgate, mas por meros instantes, meras horas, depois, somos arremessadas para a densa realidade do mundo e cá estamos nós trabalhando, envelhecendo, adoecendo, enfraquecendo-nos, exaurindo-nos, feitos extenuados náufragos do oceano de ‘deveres’ que esta vida nos impõe.
Dizem: torne os seus ‘deveres’ em prazeres. Impossível pois longe aqueles estão da verdadeira e divina sensação do prazer que só o amor nos doa. Dizem: ame seus deveres. Sim, eu os amo, mas isto não os torna maravilhososutis como os encantos que só o amor nos entrega. 
É tempo de mudanças, de tomadas de atitudes, de VIVER DE VERDADE, de construir aqui meu paraíso. Mas como fazê-lo se as engrenagens do mundo continuam trabalhando incessantemente, exigindo-nos nossas preciosas horas, cobrando-nos  compromissos assumidos e a assumir, cobrando-nos nossa sobrevivência?
Acaso isto não gera total insatisfação? Ter que sobreviver, saciando-se de pequenas gotas orvalhadas do amor e ser compelida a se embebedar, compulsoriamente, do vinagre seco e azedo dos afazeres diários?
Mundo estranho este. Mundo estanque em que a maior parte de nós apenas sobrevive, enquanto pequena parcela teima em cometer a VIDA. 

                                                                                              M. 
                                                                                                     

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