Olhar-se é um hábito que todos
deveriam cultivar desde a mais tenra idade. Saber se enxergar, nas
virtudes e misérias internas, é um exercício salutar e eficiente que nos ajuda
a evolver, que nos conduz à sabedoria e lealdade ao Propósito Divino. Só
aprendemos, verdadeiramente, a olhar o mundo, o 'outro',
a compreendermos melhor os processos visíveis e invisíveis, se
tivermos cultivado o hábito de nos mantermos, constantemente, nos observando no
pensar, sentir, falar e agir, se entre os mesmos reside alguma
incoerência. Olhar incisivamente para dentro de nós mesmos,
sem auto-complacências, sem comiserações, sem eufemismos, sem
rótulos, sem restrições. Nuamente nos enxergarmos em tudo aquilo que trazemos
dentro de nós, é uma arte, a poesia que permeia a vida.
Saber,
realmente, se enxergar, pasmem, é um gesto de humildade. Afinal,
reconhecer-se em seus limites, em suas falhas, fraquezas, é ajoelhar-se
diante de si mesmo e de Deus, ver-se inteira, no que há de luz e no que ainda
insiste em existir na sombra. Só aqueles que não se acovardam, pondo
viseiras em seus olhos internos, só aqueles que não apenas têm
princípios, mas são coerentes, seguindo-os em todos os seus atos, estes
sim, estão na senda da humildade, porém, acabaram por deturpar o
verdadeiro significado da humildade.
Pena que a
grande maioria, vagueia perdida de si mesma, crendo-se aquilo que não
é, contracenando consigo mesma uma personagem que não lhe traduz, que não
lhe comporta, que não lhe veste. E, assim, vão-se arrastando pelos anos, pela
vida, mentindo para si próprias, muitas sequer conseguem ser conscientes de
tal. Em verdade, são exímias na arte da
auto-complacência, uma generosidade absurda para com suas falhas
(tanto que as repetem) contraposta a uma arrogância para com o
'outro'. Ah se soubessem do precioso tesouro que é a arte de despidamente de
saber, se olhar.... Mas não, preferem a ilusão da falsa e cômoda
vestimenta que forjaram em suas sabotagens internas, impedindo seu recrudescer.
Estranho mundo,
estranhas pessoas, tantas máscaras amarrotadas pelo uso, amareladas pelo tempo,
esfarrapadas pela alma, que dentro grita como que morta em porão escondido,
inacessível. Quão triste deve ser, deixar-se vencer pelos anos, sem se saber no
melhor e no pior que em si há, preferindo iludir-se, carregar-se, arrastar-se
quando poderiam voar.
M.
M.
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